Tinhas em ti todos os sonhos do mundo.
Eu tenho em mim todos os medos do mundo.
Tinhas em ti os desejos e os momentos.
Eu tenho em mim os anseios e os tormentos.
Tinhas em ti as euforias e as boemias.
Eu tenho em mim as noites frias e sombrias.
Tinhas em ti os acontecimentos e os dias sedentos.
Eu tenho em mim os aborrecimentos e os dias lentos.
Tinhas em ti a ironia e a vaidade.
Eu tenho em mim a ousadia e a intensidade.
Tinhas em ti a canalhice e a fanfarronice.
Eu tenho em mim a meiguice e a meninice.
Tinhas em ti tantas loucuras e personalidades.
Eu tenho em mim as ternuras e trivialidades.
Tinhas em ti a atitude e a vicissitude.
Eu tenho em mim a virtude e a juventude.
Tinhas em ti a ambiguidade e a perversidade.
Eu tenho em mim a saudade e a vulnerabilidade.
Tinhas em ti a poesia.
Eu tenho em mim a melancolia.
Tinhas tudo.
Eu nada tenho.
Nessa tua imensidão
Sou um pequeno grão
Que apenas é capaz de espelhar
A tristeza
Em que o dia te despia
E a noite me vestia
De paixão e solidão.
Filipa Fidalgo, 21 de fevereiro de 2024