A vida se desfaz
E com ela me desfaço.
Tempo perdido
Um olhar adormecido
Travessia de um viver
Que desejava não ter nascido.
Vivo e desvivo
Barco adiante, perdido
Vejo a luz que ilumina.
E no escuro que me escrutina,
Dilata a retina
Quando vê aquilo que se avizinha.
Lá vem ela, por entre a neblina
Sobe o navio
Com um freio doentio
Prepara a enxada.
Ai, senti o arrepio!
Morto na morte de viver
Percebi que morri
Na noite escura do meu ser.
Filipa Fidalgo, 09 de fevereiro de 2020