Belos olhos azuis tem o meu avô Zé

Belos olhos azuis tem o meu avô Zé

Belos olhos azuis tem o meu avô Zé. Refletem bem a beleza, pureza e grandeza da sua alma. 

Um dia gostaria de fazer um hino ao meu avô. E não é por ele já não estar connosco. Antes pelo contrário, é precisamente por ele ainda estar connosco. Os vivos e os velhos também devem ser vangloriados.

Eu tenho muito orgulho no meu avô Zé e gostava que toda a gente tivesse a experiência de ter um avô tão maravilhoso como o meu.

Um avô afetuoso, carinhoso, preocupado, bem-disposto, sorridente, positivo, bondoso, honesto, educado, simpático e sociável. 

Um homem que dá sem esperar receber. Um homem que não chateia ninguém, que não fala mal das pessoas, que não espera nada de ninguém, e que apenas fica feliz com a felicidade dos outros e em poder contribuir para essa felicidade. 

Acima de tudo, um homem apaixonado pela vida e pelas pessoas, que valoriza todos os momentos e que, no fim de um passeio ou de uma boa conversa, gosta sempre de agradecer à companhia por aquele momento, por muito curta que tenha sido a conversa ou o passeio.

O meu avô, nos seus 86 anos, com alguma demência e uma anca fraturada que o tornou dependente a 100% e que exigiu estar a receber cuidados continuados num Lar durante 24h por dia, e a fazer fisioterapia, deu-me uma grande lição: no final da velhice, todos os nossos bens perdem a importância. Todos. Nesta fase de invalidez e demência, em que já nada se tem para oferecer, nem mesmo uma conversa com sentido, a única coisa que interessa verdadeiramente são as pessoas que deixámos a tomar conta de nós. 

Esta lição foi-me transmitida pelo olhar e pelo sorriso do meu avô sempre que vê os filhos ou as netas. Porque é só isso que ele precisa para ser feliz. E sempre foi assim que ele encarou a vida. 

E se a velhice acentua o nosso feitio e os nossos defeitos, no caso dele, só acentuou o quão maravilhoso este homem já era. Eu tenho muito orgulho no meu avô José Manuel Fidalgo.

Filipa Fidalgo, 28 de dezembro de 2022

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Fernando Pessoa