A palavra “simpatia” vem do grego sypatheia: syn (junto) + pathos (sentimento) e é a capacidade que nós temos de nos apercebermos dos outros seres humanos como seres semelhantes a nós, que partilham da mesma capacidade de ter sentimentos, experiências e perceções da vida. A palavra simpatia está diretamente relacionada com a palavra “empatia”. A empatia tem que ver com a capacidade de sermos sensíveis aos outros e de nos conseguirmos identificar ou experienciar, mesmo que hipoteticamente, aquilo que o outro sentiu, sente ou poderá vir a sentir.
Ao contrário do que possa parecer, o difícil não é ser-se antipático, é ser-se simpático. A antipatia é a forma mais fácil de estar na vida. Os antipáticos não têm de se preocupar em sorrir para as pessoas ou em cumprimentá-las e em saber como estão. Limitam-se a ser na sua existência individualizada e é por isso que são antipáticos. As pessoas antipáticas esquecem-se de que partilham o espaço com outros indivíduos com o mesmo valor existencial e daí que a antipatia esteja diretamente relacionada com a arrogância.
A arrogância é uma atitude ou uma forma de estar na vida em que nos consideramos superiores aos outros seres humanos. A arrogância é, por isso, uma falta de perceção da própria realidade (que em nada tem que ver com a autoconfiança nem a autoestima, diga-se de passagem), porque é a falta de noção do quão pequeno é o espaço que ocupamos no universo. Efetivamente, podemos ser mais inteligentes, mais cultos, mais ricos e/ou mais bonitos, mas nunca seremos mais seres humanos do que os outros. No final do dia, todos somos o mesmo pedaço de carne, mesmo que uns mais bem passado do que outros.
Daí que as pessoas antipáticas nunca me tenham causado espanto nem admiração. Já o mesmo não acontece com as pessoas simpáticas. As pessoas simpáticas são educadas e sabem sorrir para os outros, mesmo quando não lhes devem nada ou quando não estão para aí viradas. Esse é exatamente o ponto da simpatia. Não se deve ser simpático só porque nos apetece. Simpatia é ser-se simpático mesmo quando, e essencialmente, não nos apetece. Ainda para mais se não conhecemos as pessoas e não nos deverem nada.
É fácil ser-se simpático para os amigos e conhecidos ou mesmo quando estamos bem-dispostos. O valor está em sê-lo mesmo quando vamos contra as nossas vontades ou inclinações.
Verdade seja dita, é preferível um dissimulado simpático a um realista antipático. As pessoas simpáticas, independentemente do seu estado de espírito, procuram transmitir boa energia, sempre com educação e cortesia, porque têm a humildade de reconhecer que o seu mundo, ou os problemas em que vivem, não devem ser projetados para os outros, quer sejam conhecidos ou desconhecidos. Já as pessoas antipáticas acham-se no direito de interferir com o dia a dia dos outros e de transferir o seu mau-humor ou as suas desventuras para as pessoas que as rodeiam, demonstrando má cara ou sendo rudes pelas suas palavras ou pelo seu silêncio – como se as outras pessoas tivessem algo que ver com o seu estado de espírito ou as atrocidades da sua vida.
Tanto a antipatia como a simpatia tornam-se hábitos. E eu sou a favor dos bons hábitos.
Claro que ser-se muito simpático dá aso a abusos e aproveitamentos e, quem já passou por isso, sabe o quão importante é precaver-se. Contudo, uma simpatia inicial nunca fez mal a ninguém e devemos dar sempre o benefício da dúvida.
Vou continuar à espera de um mundo onde a simpatia se vulgarize e a antipatia cause espanto.
Sejamos simpáticos.