Carlos do Carmo, o adeus ao Frank Sinatra português

Já se passaram quase 4 anos desde o teu último concerto, o concerto da despedida que, infelizmente, pouco tempo depois, viria a ser mesmo uma despedida.

Lembro-me bem de, na madrugada do dia 1 de janeiro de 2021, ter descoberto com enorme tristeza que o meu adorado Frank Sinatra português tinha partido, apesar de nos ter deixado um legado musical que marcará eternamente o Fado e a música portuguesa.

Nunca fui muito adepta de música portuguesa e foi quando o ouvi pela primeira vez, ainda em tenra idade, que pude experienciar o belo e o sublime naquilo que é português. Hoje, felizmente, gosto muito de música portuguesa, apesar de sentir que ainda há poucos que a fazem daquela forma poética que só o Carlos do Carmo – e mais uns poucos – sabia fazer.

Meu querido Carlos do Carmo, ouvir-te é, para mim, a forma mais acessível de atingir o sublime, o belo, o transcendente, porque contigo experimento-me numa embriaguez dionisíaca em que me fundo com a música, com a letra (que é sempre de bons compositores) e com a voz. E é tão bom ter essa sensação de alienação em que eu e todos os meus sentidos se rendem à tua esteticidade.

Carlos do Carmo, fazias arte e eu admirei-te por transmitires essa arte de forma tão bela e singular. Enquanto houver memória, há vida. E tu és ad aeternum, meu grande cantor e fadista português.

Sou estrela ébria que perdeu os céus, Sereia louca que deixou o mar; Sou templo prestes a ruir sem deus, Estátua falsa ainda erguida ao ar...

‘Dispersão', Mário de Sá-Carneiro